quinta-feira, 5 de junho de 2008

ARTE É FORMA?


A Arte e a Vida

“A arte baseia-se na vida, porém não como matéria mas como forma. Sendo a arte um produto directo do pensamento, é do pensamento que se serve como matéria; a forma vai buscá-la à vida. A obra de arte é um pensamento tornado vida: um desejo realizado de si mesmo. Como realizado tem que usar a forma da vida, que é essencialmente a realização; como realizado em si mesmo tem que tirar de si a matéria em que realiza.”

Fernando Pessoa, in 'Ricardo Reis - Prosa'

“Arte (Latim ars, significando técnica e/ou habilidade) geralmente é entendida como a actividade humana ligada a manifestações de ordemestética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objectivo de estimular essas instâncias de consciência em um ou mais espectadores.”

Agora eu:

Suponho que devem existir uma infinidade de pessoas que tentaram, desde há muito tempo, encontrar uma de definição de Arte. Alguns terão pensado que a conseguiram encontrar? Será que tudo é susceptível de ser definido pelo Homem, através da sua linguagem? Será que não existem coisas que se sentem, coisas que nos emocionam, coisas que nos fazem sentir de um modo difícil de definir, porque são elas indefiníveis? Transcendentais?!

Pode-se falar na unidade e equilíbrio de uma pintura, na narrativa bem estruturada de um romance, no dinamismo de uma dança, sem que, desse modo, se chegue a uma definição de Arte. Na perspectiva de Bell, qualquer obra de arte se apresenta sob uma determinada forma e todas as obras de arte têm em comum serem portadoras de algo que nos provoca uma emoção particular. Bell chamou-lhe emoção estética. Como poderemos saber que característica é essa que confere a um objecto o estatuto de obra de arte? Esse algo que nos provoca uma emoção estética?

Segundo Clive Bell, só a inteligência aliada à sensibilidade, e nunca só apenas uma delas, nos poderá conduzir à descoberta dessa característica individuadora que distingue uma obra de arte dos objectos que não o são. Há algo nelas sem o qual deixariam de ser obras de Arte. Essa característica é, portanto, a sua essência. Se é a forma o elemento comum a todas as obras de arte, é a forma essa característica – de acordo com a perspectiva de Bell.

Nós sabemos que o mundo está cheio de coisas que têm forma e que não podem ser chamadas de obras de Arte. Mas, segundo Bell, a Arte não é uma qualquer forma. Um objecto só é Arte se tiver uma forma significante. Clive Bell define forma significante como aquilo que num objecto não pode ser alterado, simplificado ou alterado sem que esse objecto perca o seu significado. Ainda assim, há exemplos de coisas, como por exemplo, os sinais de trânsito, cujo significado depende exclusivamente da forma, conforme sejam redondos ou triangulares; vermelhos ou verdes, etc… Só que, ao passo que nos sinais de trânsito o objectivo é informar, nas obras de arte a exibição da forma é, em si, um objectivo. Para o formalista Bell é esta a finalidade da Arte: a exibição da forma. Assim, temos que, segundo a teoria de Clive Bell, os objectos que provocam uma emoção estética são uma obra de arte. A qualidade comum a todos os objectos que provocam a emoção estética é a forma significante.

Porém, podem ser colocadas algumas questões à sua teoria formalista da Arte:
_ Por que razão é possível existirem dois objectos com a mesma forma e apenas um deles ser uma obra de arte?
_ Em que consiste, exactamente, essa forma significante comum às obras de arte e como identificá-la num objecto?
_ Como se define a emoção estética provocada pela forma significante?

Contudo, muitos mais problemas se poderão levantar à sua teoria. Em primeiro lugar, a sua argumentação é muitas vezes criticada por ser circular. Essa circularidade consiste em afirmar por um lado, que o que provoca a emoção estética é a forma significante, e por outro, que a forma significante é aquela característica que todas as obras de arte possuem e que provoca a emoção estética. Mas, mesmo que não levemos em conta esta circularidade, podemos fazer uma crítica mais fundamental, colocando em causa a própria existência de uma emoção especificamente estética. Para além de que esta afirmação se baseia em critérios puramente subjectivos (estados psicológicos), não nos vai permitir chegar a qualquer tipo de decisão inequívoca, por isso, é uma má definição.
A teoria de Bell tem o problema de não responder àquilo que se propunha responder, isto é, construir uma definição de arte que permitisse distinguir os objectos que são obras de arte daqueles que não são. Por tudo isto, podemos concluir que, ficamos sem uma boa definição de arte.

JOÃO ANTÓNIO FRAGA MEDEIROS, Nº 9, 10º ANO TURMA P

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